Reportagem de Dream Theater no Porto
As visitas dos Dream Theater ao nosso país – especialmente à Invicta – são frequentes, mas bastava olhar para as longas filas que se formavam à porta do Coliseu, horas antes do espectáculo, para perceber que cada reencontro é um momento claramente especial. Na verdade, este regresso ainda mais aguardado era, visto que estava enquadrado na rota europeia da digressão “Images, Words Beyond”, idealizada com o intuito de comemorar os 25 anos do influente “Images and Words”, álbum através do qual o grupo realmente se estabeleceu como uma das propostas mais entusiasmantes nos meandros do metal progressivo.
Contudo, não só de celebração nostálgica viveu o concerto, tendo a banda divido a prestação em “actos”,quase como se de uma peça de teatro se tratasse(ainda que esta produção tenha sido visualmente menos elaborada do que as anteriores).
A primeira parte constituiu uma espécie de “best of” da já longa carreira do quinteto, misturando de forma extremamente eficaz novidades do mais recente “The Astonishing” com recordações como “The Dark Eternal Night” (logo a abrir), “As I Am” (com direito a um excerto da icónica “Enter Sandman” dos Metallica, naquele que foi um dos mais divertidos e inesperados momentos da noite) ou “Hell's Kitchen". Após a interpretação de “Breaking All Illusions”, a primeira metade da actuação terminou e os Dream Theater retiraram-se para os bastidores.
Foi ao som de uma intro com samples dos sucessos radiofónicos da época na área do rock (a mesma altura do lançamento do single “Pull Me Under”, num claro contraste estilístico às músicas previamente escutadas na gravação) que a banda retomou a viagem, agora de contornos puramente nostálgicos. Era tempo de mergulhar alegremente no passado e revisitar a magia de temas como o referido “Pull Me Under”, “Another Day”, “Metropolis – Part 1: The Miracle and the Sleeper” ou o registo deliciosamente introspectivo de “Wait for Sleep”.
Ainda assim, por muito revivalista que esta celebração seja, é claramente feita com gosto e de forma saudável, não abordando o passado como um conjunto de memórias de tempos áureos que não voltam, mas como um capitulo importante no âmbito de uma grande aventura ainda a ser vivida. È certo que muitas coisas mudaram desde que “Images and Words” chegou aos escaparates: a formação sofreu alterações (com óbvio destaque para a ausência de Mike Portnoy, bem substituído, apesar de tudo, pelo talentoso Mike Mangini, que até brindou a audiência com um poderoso solo de bateria) e a voz de James LaBrie , ainda que em bom estado nesta noite, já não tem a mesma potência de outrora. No entanto, a paixão e a proficiência técnica continuam lá, sendo que hoje ocupam orgulhosamente o lugar de banda veterana capaz de proporcionar um espectáculo invejável e feito a pensar nos fãs que sempre os apoiaram, como provou a inclusão da mítica” A Change of Seasons”, já no final.
Os anos passam, mas os Dream Theater mantêm-se fiéis à identidade que construíram; só por isso merecem e têm o nosso respeito.
- Organização:Prime Artists & Pev Entertainment
- sexta-feira, 05 maio 2017